sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

... Feliz Ano Novo!

 
De Julho de 2012 até hoje, passaram por esta varanda de sonhos, pessoas que proporcionaram "conversas felizes".
Em jeito de balanço de final de Ano, não posso deixar de agradecer a, cada um, o seu tempo, dedicação e honestidade, em cada conversa.
Cada um é único e especial.
Cada um tem o seu mundo próprio, genuíno e feliz.
O meu "muito obrigada" a:
 
 
 
Rogério Charraz

 
Pedro Augusto Vasconcelos

 
Teresa Radamanto

 
Marco Rodrigues

 
Cecília Moreira

 
Marina Pacheco

 
Joana Vaz Teixeira

 
Cuca Roseta


Vera de Vilhena
 
 
A partir de Janeiro de 2014, será publicada uma entrevista por mês.
Conto convosco, desse lado, para 12 Conversas Felizes no Novo Ano.
Saúde e Paz para todos!
Sejam felizes!

domingo, 15 de dezembro de 2013

... Vera de Vilhena

Dezembro é um mês quentinho de afectos, magia e presentes.

Para este mês, escolhi como entrevistada, a doce Vera de Vilhena, que acaba de lançar “A Ilha de Melquisedech” ( o primeiro volume de uma trilogia).

Vamos fazer magia e imaginar uma casa no campo, rodeada de silêncio, um vale em tons de verde e infinito, uma lareira, um chá bem quente e óptima companhia…

Esta conversa é tão bonita… espreitem só….

Quem é Vera de Vilhena?
Ui, uma pergunta difícil logo para começar! (risos) Posso responder com biografia-relâmpago.
Sou a mais nova de cinco irmãos, filha de um oficial da Marinha. Nasci e vivi em Lisboa, passava os fins de semana e os verões perto de Sesimbra, no campo e junto ao mar.


Comecei a trabalhar aos 19 anos, estudei turismo que nunca exerci, porque a vida me empurrou para a música. Em 2002 fui eu que me empurrei para a escrita. Mas continuo a cantar, é claro. Felizmente, são duas actividades perfeitamente conciliáveis. Sou mãe de um rapaz com 18 anos, uma sentimental sem remédio, mas também muito crítica, às vezes; dizem que sou doce (risos). Sou preguiçosa, distraída, espirituosa, mimuças, tímida mas disfarço bem e tenho um péssimo sentido de orientação: acho que os meus pais se esqueceram de me instalar o GPS quando me fizeram: perco-me nos lugares mais improváveis.

O público ainda tem muito presente a sua imagem como cantora residente nos Programas televisivos de Júlio Isidro, ao domingo à tarde… o que surgiu primeiro na sua vida? A música ou a escrita?
A música teve, desde muito cedo, um papel muito importante para mim: cresci a ouvir os discos dos meus pais: Ella Fitzgerald, Vinicius e Toquinho, Gal Costa, Sinatra, Carole King, Paul Simon, Paul Williams… mas ao mesmo tempo, desde a adolescência, sempre me resguardei nos diários e fui escrevinhando uns versos horríveis (risos), cheios de pontos de exclamação!!! e reticências… … e lia muito, leio desde que me lembro. Aos 12, 13 anos já corria as obras completas do Eça, aos 15 li Sartre e Kafka, as memórias da Simone de Beauvoir, enfim, era um bicho, para alguns dos meus amigos. Quem escreve precisa de alimentar-se com livros, é normal.
Ainda em criança desafiavam-me para cantar; cheguei a tocar umas coisas em flauta, a tirar melodias de ouvido, como o Hino da Alegria, de Bethoven ou o Bolero de Ravel, com 12 anos; aos 15 recebi uma guitarra acústica com cordas de nylon e compus uns temazitos: a viola foi uma passagem interessante para explorar melhor a voz, mas cedo descobri que não tinha talento nem paciência suficientes para trabalhar devidamente o instrumento: esse passou a ser a voz, desde que o Júlio Isidro me convidou para integrar a banda de cantores residentes do “Regresso ao Passado”, em 1989, estava eu a cantar em bares à noite, para ganhar uns trocos para os alfinetes, sem sequer fazer tenções de ser cantora profissional. 


“Regresso ao Passado – com Rita Guerra e Isabel Campelo”


“Regresso ao Passado – penso que um sonho più cosi no rittorni mai”


“Cruzeiros no Paquete Funchal”

A relação com a escrita desenvolveu-se a partir de 2002, despoletada pelos caprichos do meu filho. Partilho essa história na biografia que consta no meu site. Depois, o facto de ter tido uma espécie de emprego no casino do Estoril, durante 6 anos, onde cantava temas de bossa-nova de soft-jazz com um quarteto, permitiu-me escrever, pois deu-me uma paz de espírito, em termos financeiros, que eu não sabia ser possível para quem é músico ou cantor profissional na minha área. Foi então que comecei a escrever ficções mais longas: tinha tempo e disponibilidade mental: estava em paz para escrever.

Onde vai buscar a inspiração?
As pessoas têm ideias muito românticas em relação a isso. No meu caso, tal como no de muitos escritores, a coisa funciona mais na base do princípio: Quando a inspiração chegar, irá encontrar-me a trabalhar. É preciso escrever. Escrever muito. E ler mais ainda. A escrita é um músculo que deve ser exercitado regularmente. É evidente que preciso de certas condições para me concentrar: trabalho no meu pequeno escritório instalado numa casa virada para um vale e tenho um luxo que poucos têm: silêncio. 


Se os cães se portarem bem, podem deitar-se ao pé de mim. De resto, a solidão e o silêncio são os melhores motores. Para criar ambiente, recorro por vezes a uma vela aromática e a compositores como Debussy, Danny Elfman, Howard Shore, John Williams, John Lunn… têm bandas sonoras fantásticas, instrumentais que são, para mim, o ideal para escrever: se houver voz, desconcentro-me! Em termos de ideias para escrita…tudo! Qualquer coisa é passível de ser tema de um texto: pessoas, coisas, lugares, sentimentos, histórias, memórias…um par de sapatos ou uma fechadura podem dar um excelente conto. Disso só depende o autor.

Como nasceram todos os projectos literários ( escrita de livros, criação de blogue, revisão de textos, oficinas e cursos de escrita criativa)?
Ui, outra pergunta difícil! Vamos por partes, como dizia Jack the Ripper (risos): criei o blogue pouco depois de me mudar para o campo, assim que tive um computador decente: nasceu da necessidade de escrever, de ter um canto virtual a nível diário que me obrigasse a “ginasticar” a escrita com alguma regularidade. O blogue? aqui:  http://veravilhena.blogspot.pt/
Os livros? É sabido, o normal: aparecem-nos histórias e personagens que ficam durante meses, anos, a puxar-nos a manga do casaco, até que nos sentemos a escrever. Só então temos paz e podemos seguir rumo a outra coisa qualquer. O trabalho como revisora de texto surgiu como consequência de começarem a pedir-me para o fazer a título gratuito: revi um, depois outro, depois outro…até que um dia disse: chega. O trabalho paga-se. E comecei a cobrar. Outra coisa que costumo dizer e que é extensível à música e comum a tantos colegas meus na escrita e na música: não me peçam para dar a única coisa que tenho para vender. É que as pessoas esquecem-se, às vezes, que este é o nosso oficio, a nossa profissão (ou profissões): sim, estamos ligados às artes, sim, trabalhamos durante o lazer dos outros, sim, adoramos o que fazemos, e, precisamente por isso, andamos muitas vezes na corda bamba, sem saber como será o mês seguinte; por isso, tal como outra pessoa qualquer, temos de ser pagos. A sério, bato-me muito por isso. Em fotografia, música, literatura, etc, há muitos pedidos de borlas! E nós também temos contas a chegar pelo correio.
As oficinas de escrita criativa foram fruto dessa mesma necessidade: o improviso em épocas de pouco trabalho. Deu certo. Comecei a ter convites, a elaborar oficinas temáticas e descobri que era algo que gostava de fazer também. 


Mas é raro, desde 2009, tenho feito apenas duas ou três por ano. Recentemente venci o problema da distância de potenciais interessados, dando aulas online. Já tive um aluno que mora em Londres.

Também escreveu duas letras para o álbum “Luar” da Rita Guerra… aliam-se aqui amizade, música e escrita?
Olha, uma pergunta de resposta rápida! (risos). Sim, claro! Eu e a Rita conhecemo-nos há mais de 20 anos e ela tem acompanhado o meu percurso, tal como eu acompanho a carreira dela: o cruzamento era inevitável, foi um convite natural e uma boa experiência. No entanto não me considero compositora mas sim letrista.

Album “Luar” da Rita Guerra

Tema "Noite e Lua". Link:

“A Ilha de Melquisedech”… um livro que chega no mês do Natal… que presente é este? O que nos oferece esta “ilha”?
São 505 páginas de evasão e de magia. Acho que todos nós temos vontade de fugir, de vez em quando, para mundos impossíveis e perfeitos. O tema da utopia foi explorado desde Thomas More, no séc. XVI, até ao romance “As três Sereias”, de Irving Wallace, que li aos 15 anos e que me marcou bastante. Mas a Ilha de Melquisedech, apesar de parecer, num primeiro olhar, uma narrativa para adolescentes, pode perfeitamente seduzir os adultos, como aliás tem acontecido: não só porque todos temos, dentro de nós, a criança que fomos, como também este romance de fantasia não é tão inocente como isso. Fui escrevendo a história recorrendo a personagens que se multiplicaram para me servir, e recorri a muitos elementos da mitologia nórdica e helénica, que me pareceram absolutamente irresistíveis. Há igualmente uma espécie de homenagens a jogos e ofícios tradicionais que estão a desaparecer na era moderna e que eu quis recuperar, além de que se encaixavam como luva neste cenário suspenso no tempo. E espero que os leitores se divirtam e encantem tanto como eu, ao escrever este livro que andou comigo durante mais de dez anos.

Onde podemos adquirir este livro de fantasia?
É uma edição da Chiado Editora, pelo que o livro será apresentado às livrarias do comércio tradicional e aos grandes grupos comerciais (Fnac, Sonae, El Corte Inglês, Bertrand e Bulhosa) que farão encomenda da obra se ela tiver procura. De qualquer forma, o livro estará sempre disponível em qualquer balcão, através de encomenda. Online, podem encontrá-lo no site da Chiado Editora, na Wook, na Bertrand Online e no Sítio do Livro. Eu própria tenho também alguns exemplares comigo, que posso (não por muito mais tempo, pois estão a esgotar-se, felizmente!) fazer chegar aos leitores, com a justa dedicatória e sem portes de correio: por isso escolhi a época de Natal.
No Brasil, a Chiado trabalha também através de pedidos de clientes com a Livraria Cultura e Livraria Saraiva, pelo que o meu livro fica disponível no catálogo deles (em loja e online) e sempre que alguém encomenda a editora procede ao envio dos livros pedidos. O que é uma vantagem em relação às editoras tradicionais. Já tenho encomendas do Brasil! O que é muito bom e surpreendente, confesso.

A Vera vive na Ericeira e partilha a vida com Nanã Sousa Dias… este é o “casamento” perfeito? A inspiração mais bonita? Afinal, o encanto da Ericeira fala por si e o músico e compositor embalam uma cultura e um gosto que vai ao encontro do muito que vem construindo no seu caminho…
Sim, claro, ambos gostamos de estar perto do mar e da vida no campo, por isso a zona da Ericeira e o concelho de Mafra, não sendo muito distantes de Lisboa, oferecem-nos ambas as paisagens e uma boa qualidade de vida. A costa abunda em praias excelentes para o Nanã fotografar (faz fotografia Fine Art, a preto & branco, de médio e grande formato, e revela em casa, no laboratório, além de dar workshops aqui também, no estúdio dele, onde já fez muitas capas de discos – Rui Veloso, Rita Guerra, Paulo Gonzo etc – o que seria impossível, se tivéssemos um apartamento na capital ou na linha do Estoril).


Além disso, como músico, pode estudar saxofone às horas que bem entender, sem vizinhos a bater com a vassoura no tecto (risos): é que o senhor tem um tórax de meter respeito! Por vezes só não é o “casamento perfeito” quando eu pretendo escrever e ele decide estudar barítono… nesse caso, salva-me o volume das colunas do computador (risos), ou, sei lá, vou lavar a loiça ou brincar com os cães até que passe.

O que lhe oferecem as fotografias e as músicas de Nanã?
As fotografias? Muito. O Nanã tem um gosto e uma estética irrepreensíveis, além de saber a sério do seu ofício. Quanto a retrato, as melhores fotografias que tenho foram tiradas por ele. Quase todas.



Como saxofonista não é tanto “a música”, mas a sua forma de tocar. O Nanã é extraordinariamente versátil nos géneros de música e especializou-se como solista e improvisador: nunca toca um tema da mesma maneira e quando a noite “lhe corre bem” eu lembro-me que ele continua a ser o meu saxofonista preferido (risos)!

Onde poderemos ler a Vera-escritora?
Bom, além de poderem comprar o meu novo livro (risos), podem seguir o site e o blogue. (site: http://veravilh.wix.com/gavetas-e-gavetinhas) Por aí poderão manter-se actualizados quanto ao que vou fazendo e escrevendo, além da página de facebook, claro.


Aproxima-se o Natal… um momento quentinho de afectos e reflexão… o que lhe traz esta quadra?
O frio! (risos). Sou muito friorenta. Adoro decorações natalícias, quando são bonitas. Fico embevecida com certas imagens cheias de dourados, encarnados, verdes-escuros, roupas quentinhas com estrelas de neve, casinhas de chaminés fumegantes, bolos de gengibre e todo o imaginário infantil. Sou uma criança sem remédio, que não cresce: uma Peter Pina (risos). E adoro os filmes de natal, cheios de coisas inúteis e de fantasia. Precisamos muito de magia nas nossas vidas. De resto, o Natal é a consoladora antecipação de rever a família, com quem não estou tantas vezes quanto desejava e, é evidente, tenho a perspectiva de engordar dois quilos: está marcado na agenda (risos).

Projectos para 2014…
Emagrecer dois quilos. Continuar a escrever o segundo volume d’ “A Ilha de Melquisedech”. Ir às escolas, que já me lançaram alguns convites. E, lá para a primavera, irá sair um outro livro, intitulado “Coisandês – A vida nas coisas”. É um conjunto de contos para adolescentes, que ganhou o Prémio Revelação APE/Babel e que, finalmente, será publicado a tempo da Feira do Livro de Lisboa. Irá ter também, à semelhança da Ilha de M., ilustrações da Vanessa Bettencourt. Na música pretendo continuar a cantar bossa-nova e soft-jazz, a não ser que me apareça algo de novo que me apeteça cantar.

Transmite a imagem de uma mulher muito doce e serena. O permanente contacto com a natureza ajuda?
A doçura é crónica, nada a fazer (risos). Caí num caldeirão de mel quando era pequenina. Serena? Eu? Não sei, talvez. Nem sempre. Preciso da inquietude da cidade de vez em quando, mas rapidamente preciso de voltar a ser flor silvestre e regressar a casa, para junto das árvores, do vale, dos cheiros, do silêncio, dos bichos (pássaros, corujas, vacas, ovelhas, corvos, raposas, coelhos, saca-rabos…ninguém sabe o que é um “saca-rabo”, mas há aqui e são muito engraçados, uma espécie de texugos).

O que a faz SER Feliz?
Ver felizes aqueles que amo, fazê-los felizes, estar com a família e os amigos, ter sonhos, organizar projectos impossíveis, receber mimos, ver coisas boas a acontecer à minha volta e sentir que vale a pena. Seja o que for. Que valha a pena, pois as conquistas mais difíceis são as que têm melhor sabor. Um cliché e uma grande verdade.


Vera de Vilhena… um nome e um rosto a não esquecer…
Sejam felizes!