quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

...Ana Vasconcelos... The Voice...


Estamos em Dezembro e o Natal aproxima-se de uma forma muito rápida… são dias em que os afectos, os mimos, os presentes, os postais, as músicas… nos trazem mais calor e, por isso (e também por outras razões) decidimos descer do Porto a Cascais para falar com a Ana Vasconcelos… uma mulher de corpo inteiro, com uma alma imensa e uma voz quente, que nos transporta até onde o sonho nos levar.

Muitos serão os leitores que ainda se lembram dela nos programas de Júlio Isidro, ao domingo à tarde, no canal 1, ou mesmo nos Shout…

A quem a memória não deixar ir tão longe no tempo e no espaço, relembro que, ainda está muito presente a participação da Ana no The Voice Portugal, e da sua filha, Mariana Bandhold, também…

Para que não falte nada no embalo da preparação para duas das Festas mais aguardadas do ano, brindamos os nossos leitores com uma entrevista muito especial… traz Paz, Amor e um infinito de experiências e possibilidades para acreditarmos num mundo melhor…


Ana, lembro-me muito de ti nos Shout (há uns anos atrás) e nos Programas do Júlio Isidro, ao sábado à tarde, onde cantavas com outros cantores, como a Vera de Vilhena… desde aí até à Família Superstar… nunca mais se viu a Ana a cantar na televisão… deixaste de aparecer na caixinha mágica ou fizeste uma pausa nas canções?

Fiz uma pausa nas canções para fazer teatro e trabalhar com o Filipe lá Féria nas peças musicais “My fair Lady” e “Musica no coração”. Foi uma experiência extraordinária! Adoro o Filipe lá Féria é um grande encenador, ensinou-me muitíssimo… espero um dia voltar a fazer teatro.

Estudaste canto, dança e Gestão Hoteleira… toda tu és Arte e Sensibilidade… Gestão Hoteleira, porquê? J
O mundo do espetáculo é fantástico, mas muitas vezes temos de saber viver uma vida insegura e instável… Na altura pareceu-me muito importante ter também um curso numa área mais segura para me apoiar.
Como defines esta tua última “aparição pública” como concorrente do The Voice Portugal? Achas que, apesar da tua curta passagem pelo programa, te poderá ter aberto portas para te lançares noutros voos e arranjares novos projetos nesta área?
Estou sempre atenta aos pedidos do meu coração e por isso decidi participar no the Voice Portugal 2015. Defino esta participação no The Voice como uma honra para com o meu coração. Quero muito voltar a cantar e acredito que esta participação me vai ajudar a voltar aos palcos novamente.
Quem achas que poderá ganhar? De quem te tornarias “madrinha”?
Este concurso tem vozes fantásticas, será sempre, com toda a certeza, uma escolha difícil tanto para o público como para os mentores. Eu particularmente escolheria a Deolinda e o Ricardo Manuel pelas fantásticas vozes que têm e sobretudo pelas qualidades humanas que cada um têm.
O pai da tua filha Mariana, morreu repentinamente como voluntário no Iraque…. A fragilidade deixada com a sua partida tornou-te numa pessoa mais forte? Como lidaste com a dor? Como ajudaste os teus filhos a superar/ aceitar esta perda?
Tornou-me me mais forte sem dúvida porque a dor mostrou-me a minha força, uma força que desconhecia. Aguentamos sempre mais do que pensamos. Penso que não são as coisas que nos acontecem que importam, mas sim o que fazemos com o que nos acontece. O modo como reagimos à adversidade na vida faz toda a diferença no drama ou na comédia que estamos a criar para nós. Fiz da minha dor a minha força. Na minha humilde opinião a dor tem dois lados, o sofrimento e a aprendizagem. Quando decidimos enfrentar e ouvir com coragem a nossa dor, ela ensina-nos. A dor é professora e foi isso que ensinei aos meus filhos. Ensinei-os a aceitar, a sentir e ouvir, a não fugir, a enfrentar e a criar algo de bonito com ela. Quando transformamos a nossa dor em algo de belo a cura aparece e o luto termina. A minha filha escrevia música, o meu filho poemas… é importante exteriorizar a dor. É tão importante senti-la como transmutá-la em amor… este transmutar em amor que a dor nos proporciona pode ser milagroso para a nossa vida. Ao transmutar a minha dor, consagrei-a num livro ou melhor numa trilogia… Esta minha trilogia que se chama o código ANGEL 22, sairá em Março o primeiro volume e surgiu da minha aprendizagem e crescimento com a dor.
Ana e os dois filhos
A espiritualidade é um caminho que nos fortalece?
Sem dúvida que sim! Espiritualidade para mim é bem diferente de religião. Sinto que nós não somos este corpo, mas sim o espirito que o nosso corpo transporta. E a espiritualidade é a conexão com o nosso espirito. O nosso espírito poderá levar-nos muito longe, se nos focarmos e se soubermos ouvi-lo com atenção, se nos soubermos afastar das limitações materiais…A dor, a perda, o insucesso… são pedidos de conexão.
“Esta tatuagem simboliza a trindade, o espírito-círculo, a alma-triângulo  e corpo-quadrado. Somos todos uma unidade tripartida e abordo este tema no meu livro, que sai em Março de 2016" AC Vasconcelos
Sei que, neste momento, estás ligada à Medicina Quântica e ao auto-conhecimento… qual o teu papel? O que fazes? Como ajudas os outros?
Em 2011 tirei mais um curso, um curso de medicina quântica e cromoterapia, porque percebi que a minha paixão para além da música é também ajudar os outros. Ajudar na dor, no desespero, no sofrimento…sinto que é algo que faço naturalmente. Trabalho com grupos e faço terapias individuais de medicina quântica.
Nos trabalhos de grupo ajudo exatamente nesta procura da essência, e conexão com espírito. Nos trabalhos de medicina quântica tento curar quadros energéticos, emocionais, mentais  e algumas vezes físicos também, através do alinhamento das frequências, através da vibração, da cor, do som, da criatividade…



O Benfica é uma paixão? O que te leva ao Estádio? O que mais aprecias num jogo de futebol?
É uma paixão o Benfica, sem dúvida! O que me faz vibrar no futebol é o poder da união. Já reparam como num estádio os adeptos de um club não reparam nas diferenças de classe social, nem da cor da pele e são todos uma família. Para mim é isso que a raça humana é uma grande família. No mundial de 2004 quando Portugal ganhou à Holanda fomos todos para a rua festejar e toda a gente se abraçava e vibrava como uma grande família. Foi tão bonito ver essa união de Portugal, gostava que fosse sempre assim… e um dia será com certeza. Não perco a esperança num mundo melhor. Tento contribuir para isso com o meu trabalho e com aminha música, procurando sempre semear o amor, a paz.
Que melhor palavra te define?
Amor
E se fosses uma canção? Qual escolherias?
Esta pergunta é muito difícil, mas talvez: “Music was my first love” ou “Ennio Morricone - Cinema Paradiso” ou “Nella fantasia”

Como é o teu dia? Como preenches as tuas 24 horas?
Procuro todos os dias dar o melhor de mim, agir com amor e com verdade em tudo. O meu dia divide-se entre ser mãe, terapeuta e escritora, em trabalhar com música e ir ao ginásio. Tento apoiar quem posso pelo caminho e procuro trabalhar sempre o maior amor e verdade. Tento praticar diariamente a gratidão, tenho um caderno diário onde todas as noites agradeço as 5 coisas que mais gostei no meu dia. Aprendi a fazê-lo com a Oprah Winfrey, e adoro porque obriga-me a conectar com as coisas boas da vida, mesmo nos dias que não me correm tão bem. E a verdade é que por pior que seja o nosso dia, existem sempre motivos para agradecer. Temos sempre o poder de escolher, o nosso foco, ou nos queixamos ou agradecemos. A vida é fantástica para quem está focado nas estrelas e não na lama.
“Dois homens olham pela mesma janela. Um vê a lama. O outro vê as estrelas.” Frederick Langbridge
O que é que mais gostas de fazer? Viajar, ler, estar com os amigos?
A música anda sempre atrás de ti ou vive dentro de ti?
Viajar é das coisas que mais gosto na vida, sem dúvida. Voltamos sempre diferentes e renascidos de uma viagem. Jantares em família e com amigos são outra coisa que amo fazer. Os meus amigos são muito importantes na minha vida e sempre que eu posso junto-me com eles. Adoro também estar sozinha, meditar, ler e ouvir música, passear na natureza, abraçar uma árvore… fazer algo que me conecte com o meu espirito, com a minha essência. Gosto muito de cinema. Quanto à música, ela acompanha-me para todo o lado onde vou, tenho um Ipod com a minha seleção musical preferida que não dispenso ter sempre na minha mala.
Li, algures, que a tua cantora nacional preferida é a Ana Moura. Porquê? J
Pela alma que apresenta ao cantar.
Livros e filmes da tua vida…
Livro: o Alquimista e qualquer livro de Fernando Pessoa.
Filmes: O tigre e a neve. Favores em cadeia. Cor púrpura. Interstellar. The pursuit of Happiness.
O que é que a tua casa diz de ti?
Que sou serena e simples.


O que te faz SER Feliz?
Os meus filhos...Conhecer-me cada vez melhor e Ser eu mesma. Estar em paz comigo mesma em cada decisão. Respeitar quem sou e agir sempre com a verdade do meu coração, impendentemente dos resultados.
Obrigada Inês, espero ter ajudado. Beijinhos
Obrigada, eu, Ana… pela recepção, pelo carinho, pela entrega e imensidão de que és feita.
Aos leitores do Conversas Felizes, desejo um Santo Natal e um Novo Ano cheio de Saúde e projectos concretizáveis. Que o caminho seja de força e esperança!
As músicas que se seguem, são para vocês…
Bem-hajam por estarem desse lado!
Tributo de Ana Vasconcelos a Michael Jackson, que considera um dos artistas mais talentosos de sempre…
Com a filha, Mariana…”Contigo en la distância” de Christina Aguilera
“When you believe”… um embalo poderoso que merece ser partilhado…
“Penso que não são as coisas que nos acontecem que importam, mas sim o que fazemos com o que nos acontece.” AC Vasconcelos
 Inês Monteiro

domingo, 13 de dezembro de 2015

Bárbara Guerra Leal...uma cientista portuguesa, com certeza...




Num país, onde a ciência é tão maltratada ( e os bolseiros também), a jovem Bárbara estuda, com alma e coração, uma doença que afecta milhões no mundo inteiro... um mundo, para muitos, desconhecido e imenso de ciência, comportamentos, presenças e ausências.
Querem espreitar o universo desta cientista dedicada à epilepsia?

Comecemos pelo início... o que é a epilepsia?

A epilepsia é a doença neurológica mais frequente em todo o mundo afectando 4-6 em cada mil habitantes num total de mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo. Estima-se que haja cerca de 50 novos casos por 100 mil habitantes por ano. A maioria destes casos surge em países subdesenvolvidos. Esta doença afecta pessoas de todos os sexos, idades, raças e classes sociais. O termo epilepsia designa um grupo de síndromes que se caracterizam pela ocorrência de crises epilépticas recorrentes. Estas crises surgem quando há desequilíbrio na actividade cerebral. Em situações normais, os nossos neurónios são excitados para que haja transmissão de uma “mensagem” que nos faz responder a determinado estímulo do meio e que se manifesta numa determinada acção do nosso organismo, por exemplo uma contracção muscular. Mas depois de essa mensagem ser transmitida, os neurónios são inibidos para que não haja uma estimulação em excesso. Numa crise epiléptica estes mecanismos de excitação e inibição estão desregulados fazendo com que haja uma “híper-excitação” neuronal ou seja uma “hiperactividade” (digamos assim) celular.  Esta actividade elétrica neuronal altrada é breve, surge repentinamente e pode afectar momentameamente a maneira como a pessoa se move, se comporta ou se sente. 
 
Nasce-se epiléptico ou podemos tornarmo-nos epiléticos?
Pode nascer-se epiléptico, por exemplo epilepsias originadas por malformações corticais. Ou uma pessoa pode tornar-se epiléptica, por exemplo epilepsias que se desenvolvem após um traumatismo crânio-encefálico. Eu acredito, no entanto, que mesmo nestes casos tudo depende da nossa constituição genética (que nasce connosco) que condiciona toda a resposta do nosso organismo ao ambiente que o rodeia.
Bárbara junto da imagem de um neurónio, em Paris.
 
Existem vários tipos de epilepsia? Mais perigosas e menos perigosas?
 
Sim existem diferentes tipos de epilepsia. As epilepsias podem ser classificadas segundo a causa – metabólica, imune, estrutural, genética ou de causa desconhecida – e podem ainda ser classificadas de acordo com a localização da crise – generalizada (afecta ambos os hemisférios cerebrais), parcial ou focal (em que a actividade anómala se restringe a um região cerebral). As crises parciais podem ser simples em que não há perda de consciência mas as pessoas podem ter movimentos espasmódicos de uma parte do corpo ou auras sensitivas, epigástricas, olfactivas ou emocionais como por exemplo um medo inexplicado. Esta manifestação variada depende da área cerebral afectada. Nas crises parciais complexas a pessoa parece consciente mas está “irresponsiva” com um olhar distante ou movimentos rítmicos repetidos. As crises tónico-clónicas generalizadas são das mais perigosas. Nestas crises há contração simultânea de todos os músculos durante um curto período de tempo podendo haver perda de consciência e até paragem respiratória. Esta contracção é seguida de movimentos espasmódicos. A seguir a esta crise pode haver momentos de confusão mental e sonolência com dores de cabeça e dores musculares. Algumas pessoas têm crises tipo ausências com breves momentos de perda de consciência podendo haver movimentos rítmicos repetidos ou apenas olhar vazio e o retorno ao estado normal acontece rapidamente.
 
O diagnóstico da epilepsia é fácil? As pessoas podem estar atentas a determinados sinais?
 
O diagnóstico de epilepsia é essencialmente clinico com recurso a meios complementares como o electroencefalograma (EEG), a ressonância magnética (RMN) ou a tomografia axial computurizada (TAC). Convém referir que cerca de 10% da população mundial pode ter uma única crise epiléptica na vida devido aos mais variados factores como hipoglicemia, drogas ou outros. Estas pessoas não se consideram epilepticas. Para haver o diagnóstico de epilepsia tem que haver a ocorrência de pelo menos duas crises epilépticas “não provocadas”. De qualquer forma sempre que uma pessoa apresente algum destes sintomas, ou tenha uma crise o mais aconselhado é consultar um neurologista que depois o encaminhara para fazer os exames adequados.
Como deve agir quem está perto de um familiar, ou amigo, quando tem uma crise?
Primeira coisa é não entrar em pânico. Se for o caso de uma crise tónico-clónica generalizada deitar a pessoa e colocar um casaco, a mão ou algo para proteger a cabeça de bater no chão ou objectos, Quando a convulsão acabar colocar a pessoa na posição lateral e alargar a roupa à volta do pescoço. É importante que não se se dê de beber, nem se coloque nada na boca do doente durante a convulsão. Não se deve tentar acordar nem levantar nem forçar a pessoa a ficar quieta. Deve sempre acompanhar a pessoa até que a consciência seja recuperada e a respiração volte ao normal. Em casos de auras ou ausências deve-se proteger o doente de algum perigo iminente e ficar com ele até recuperar a consciência. Quando não se sabe o que fazer, se as crises durarem mais de 5 minutos, se houver muitas crises repetidas sem recuperação de consciência entre elas ou se for a primeira crise da pessoa deve-se ligar para o 112 ou para a linha saúde 24.
Que estilo de vida se pode/ deve recomendar a um epiléptico? É sabido que, o descanso é essencial, certo? Alguns cuidados a ter?
O descanso é muito importante sim. É importante ter um sono de qualidade e em quantidade em horários regulares. E depois ter um estilo de vida saúdavel como uma alimentação equilibrada. Em casos de crises causadas por factores externos (como vídeo-jogos ou luz) evitar esses factores. E ter sempre muito cuidado com a medicação. É fundamental fazer sempre a terapêutica como receitado pelo médico.
 
A que tipo de congressos vais?
Vou a congressos de diferentes tipos nacionais e internacionais. Vou a congressos de neurologia mais voltados para a parte clinica mas que dedicam uma parte das suas sessões à parte de investigação mais básica e vou também a congressos de genética.
Posters da Bárbara, num congresso, em Londres.
 
 
Em que país, a investigação nesta área, se encontra mais avançada?
Há grupos muito bons e de referência em vários países como a Holanda, Inglaterra, Estados Unidos. Uma coisa que se tem vindo a verificar, e ainda bem, é que estes grupos têm colaborado em grandes investigações conjuntas. O grupo de investigação de que faço parte foi já convidado a participar num grande estudo genético que envolveu vários países europeus e que era liderado por um grupo de Londres. É importante começar-se a perceber que estas investigações conjuntas é que nos vão permitir avançar no conhecimento da epilepsia. Estas colaborações são sem dúvida fundamentais.
 
Como vai a saúde da investigação em epilepsia, em Portugal?
Vai mal, infelizmente… e o problema é que não é só a área da epilepsia afectada mas sim toda a investigação científica. Houve muitos cortes nos apoios que o estado dá à investigação. Cortaram fundos aos institutos, diminuíram o número de bolsas para doutorandos e pós-doc. E cá não há como existe, por exemplo nos Estados Unidos, mecenas ou apoios privados. Tirando poucos e raros apoios de indústrias farmacêuticas e de pequenas bolsas atribuídas, por exemplo pelas ligas de cada doença, o grande financiamento da ciência em Portugal vem do Estado. E com estas medidas que estão a ser tomadas está cada vez mais difícil fazer investigação científica em Portugal.
 
Há cura para a epilepsia?
Neste momento, não. A cura implica que se saiba qual o mecanismo que leva ao desenvolvimento de epilepsia e qual a sua origem e isso não acontece na maioria das epilepsias. O que se consegue é controlar as crises epilépticas com medicação. Esse controlo das crises é conseguido em cerca de 70% dos doentes e há até casos de doentes que ao fim de vários anos podem deixar de tomar medicação. Os cerca de 30% dos doentes que não respondem à farmacoterapia (refractários) outras opções terapêuticas como a electroestimulação, a aderência à dieta cetogénica (rica em gorduras e quantidades reduzidas de hidratos de carbono e proteínas) ou a cirurgia podem ser consideradas. Claro que tudo depende das características das crises epilépticas e dos doentes em questão (e isso é uma área clinica na qual não expert). Por exemplo nem todos os doentes são candidatos a cirurgia. E mesmo depois da cirurgia (em que é removida a área em que se verifica a actividade celular anormal) é necessário que os doentes tomem medicação pelo menos durante algum tempo.
 
Na pesquisa que fiz sobre este tema central da nossa conversa, encontrei informação sobre a Associação Portuguesa de familiares, amigos e pessoas com epilepsia. Quão importante poderá ser para um doente, ou familiar, juntar-se a uma associação que atua no âmbito do voluntariado, serviço social, consulta de psicologia, grupos de ajuda mútua?
Na minha opinião é essencial que as pessoas, doentes, familiares e amigos mais próximos, se informem bem sobre o que é a epilepsia, como actuar, quão importante é tomar a medicação e fazer a terapêutica adequada. Muita dessa informação é transmitida, claro, pelo médico e equipa que seguem esses doentes. Mas, pelo menos para mim, é importante as pessoas fazerem parte de uma liga ou associação de doentes. Estas associações, além do apoio logístico que podem dar, são muito importantes para os doentes e familiares perceberem que não estão sozinhos. Para poderem partilhar experiências e poderem contar a sua história.
 
Tens algum feedback da marginalização social perante os doentes epiléticos como, por exemplo, no emprego?
Eu não contacto directamente com os doentes e como o trabalho que desenvolvo não tem muito a ver com dados psicossociais não te posso dizer muito sobre isso. Sei que os doentes mão podem exercer todo o tipo de profissão. Por exemplo as que envolvem manuseamento de máquinas ou condução são mais difíceis de ser exercidas por doentes epilépticos. Isto por questões de segurança não só de terceiros mas também do próprio doente. Sei também que a taxa de desemprego e muito superior nestes doentes comparativamente à população em geral. Mas de resto não te sei dizer mais nada…
A “Epilepsia é mais do que ter crises”?
Sem dúvida que sim, é muito mais do que isso. E esse é precisamente o tema lançado pela liga internacional contra a epilepsia (ILAE) na companha de 2014/2015. E esta frase pode ter duas interpretações. Por um lado temos os doentes que têm a epilepsia controlada com medicação diária e que aos poucos começam a retomar as suas actividades quotidianas. No entanto, estes doentes vivem na angústia da possibilidade de ocorrência de uma nova crise epileptica. Para estes doentes “epilepsia é mais do que ter crises” significa que há vida para além das crises epilépticas. Por outro lado temos os casos mais graves que são os que não são controlados com medicação em que “epilepsia é mais do que ter crises” nos leva a perceber que associado às crises epilépticas existem alterações noutras áreas por exemplo cogniticas, sociais e comportamentais. Este grupo de doentes tem maior índice de morbilidade e mortalidade
 
Sendo tu, uma “menina das ciências”, consegues divagar pela literatura e outras artes? Que mais te preenche para além da ciência? Fala-me das tuas paixões…
Sim tem que haver tempo para tudo. E passarmos tempo a fazermos outras coisas que gostamos ajuda-nos, penso eu, a sermos melhores pessoas e consequentemente a sermos melhores investigadores. A ciência é o meu trabalho mas é também uma paixão que se completa com outras. Gosto muito de fotografia e de cinema (não me considero cinéfila mas sim uma viciada :p é uma boa maneira de por algumas horas conseguirmos fugir à realidade) Adoro viajar: ter contacto com outras culturas e costumes, visitar locais com que sempre sonhei, ver in loco imagens que se conhece só de postais ou de livros… é indiscritível e um prazer imenso. Mas também adoro passear pelo ”meu Porto” com as suas ruas encantadoras. As leituras é que não andam assim muito bem apesar de gostar muito de ler (uma outra forma de “viajar”). Neste momento (e é uma vergonha dizer isto) além do necessário para o trabalho, leio muito pouco (cerca de 3 livros por ano). Leio essencialmente livros de suspense, policiais e alguns romances históricos. E também faço algum desporto: com algumas caminhadas e corridas ;)
 
O que te faz SER Feliz?
Faz-me feliz saber que as “minhas pessoas” estão bem, sou feliz quando chego ao fim do dia e sinto que cumpri a minha missão.
Sou feliz quando estou com os meus amigos.
Sou feliz porque tenho a sorte de trabalhar na área com que sonho desde miúda. E se é verdade que, nem todos os dias correm bem, temos que aproveitar os momentos felizes ao máximo e perceber que a felicidade está nestas pequenas coisas que fazem parte do nosso mundo!
Granada
 
Pateira - Aveiro
Bélgica
 
 
 
E é assim que nos despedimos desta cientista... entre o estudo e as viagens.
Dois caminhos felizes a inspirar todo um universo de leitores sedentos de conhecimento.
Obrigada, Bárbara!
 
 
Aos meus leitores, agradeço a fidelidade e as partilhas que têm vindo a fazer com que o "Conversas Felizes" seja, cada vez, mais conhecido.
Até à próxima conversa!
 
 
Inês Monteiro